Coletivo promove escritores independentes em Aparecida de Goiânia (GO)

A proposta do coletivo Goiânia Clandestina, de Aparecida de Goiânia é unir escritores atuais e independentes, publicando seus trabalhos e promovendo eventos nas periferias e escolas descentralizadas

29.09.21

Crédito: Pablo Lopes/Goiânia Clandestina

Por: Gabriel Murga / Lupa do Bem – Favela em Pauta

O coletivo Goiânia Clandestina está fundado com base na necessidade de acesso à escrita e a leitura como fundamento de um pensamento cultural, crítico e plural da atualidade.

A iniciativa também visa promover de oportunidades de publicação para autores invisibilizados, seja por não conseguirem financiar seus próprios livros ou por não alcançarem de outra maneira o mercado editorial.

O coletivo começou a ser desenvolvido a partir de 2015, quando os autores locais se reuniam para ler e ouvir os poemas uns dos outros.

Mas, em 2017, a iniciativa começou a ganhar forma com o lançamento do livro “Antologia Clandestina – Poesia Marginal Goiana”, apresentando ao público o trabalho que já semeado e que começava a florescer. 

Goiânia Clandestina

“O projeto surgiu como uma emergência, para reunir, publicar e divulgar, os escritos e escritores, em recorte marginalizado, em atividade hoje no estado de Goiás”, afirma Mazinho Souza, poeta de Aparecida de Goiânia e fundador do Goiânia Clandestina.  

O coletivo produz revistas, festivais, além de outros produtos editoriais que buscam ampliar a aceitação por parte do público sobre esses novos autores, além de gerar visibilidade.

Goiânia Clandestina

Para Mazinho, o público goiano estava carente de produções com uma abordagem da realidade mais crua e próxima ao que vivem.

“Vejo que o [coletivo] Goiânia Clandestina vem cumprindo esse papel. Há uma aceitação muito boa de qualquer produção que a gente realiza, obviamente cada produto atinge um público diferente, e por isso, para a gente é importante caminhar em vários caminhos que a literatura possui: revistas, livros, festivais, slams, pois assim contribuímos também para uma democratização do fazer literário”, aponta.

 

Goiânia Clandestina

Mazinho destaca que “quem não escreve, pode recitar”, e “quem não recita, pode escrever” fazendo com que essas ações movimentem os autores em várias frentes e que eles não se apeguem a um único meio de fazer literatura.

Goiânia Clandestina: literatura e o estímulo aos novos leitores e autores

Mazinho apontou, em conversa com a Lupa do Bem, a mudança positiva que o mercado editorial enfrenta sobretudo em Goiás por esforço de iniciativas individuais e claro, coletivas:

O mercado mais tradicional foi um pouco consumido pelas editoras novas, sobretudo as independentes, que nasceram já com o olhar para as produções contemporâneas. Isso demonstra incentivo e possibilidade para quem está produzindo literatura hoje. Embora ainda haja nas próprias editoras novas um percentual de tradição, pois possuem ainda as grandes editoras tradicionais como referência, seja para se seguir, seja para distanciar”, afirma.

Lupa do Bem: A produção de literatura na periferia é um gancho para a formação de novos leitores nestes espaços? 

Mazinho Souza: Goiânia Clandestina: Bom, primeiro que ninguém publica para si mesmo, então penso que a produção literária na periferia já gera um estímulo à leitura, quase que simultaneamente, uma vez que quem tá produzindo também está lendo, nem que seja a própria produção. Certamente, ainda há pouco hábito de leitura em qualquer situação geográfica e espacial no Brasil. É necessário um trabalho prolongado para que a leitura se torne mais uma coisa no cotidiano das pessoas, algo natural. Isso diz mais sobre políticas públicas que qualquer outra coisa: não há incentivo por parte das mídias abertas, do Estado e município, para que haja a prática de leitura sem que se esteja em uma universidade, por exemplo. 

Goiânia Clandestina

Como você definiria o coletivo Goiânia Clandestina?

Mazinho Souza: O Goiânia Clandestina, acredito, não é possível definir, uma vez que definir tira a possibilidade de aquilo se tornar algo diferente. Mas o Goiânia Clandestina está sempre em transformação, se movimentando de acordo com as urgências culturais e literárias, sempre aberto aos novos fenômenos para não cair na mesmice arcaica de algumas instituições. Por isso, a melhor característica para compreender o Goiânia Clandestina é enquanto movimento. O movimento não se define, só acontece, bem próximo de um redemoinho. O redemoinho é bem mais que poeira girando, é aquilo que tira as coisas do lugar, junta em um único movimento e depois espalha. O Goiânia Clandestina é como um redemoinho.  

Autor: Redação - Lupa do Bem
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