Circo da Lua garante educação, arte e diversão em Serra Grande, Bahia

Localizado entre Ilhéus e Itacaré, no Km 35 da BA 001, espaço oferece aulas de circo, música, dança, teatro e artes plásticas, além de espetáculos para toda população

18.04.24

No Circo da Lua acontecem inúmeros espetáculos lúdicos, encantando o público no distrito de Serra Grande, no interior da Bahia. Mas não apenas isso. Ali também funciona uma escola única na região. Com aulas de música, dança, teatro, artes plásticas, acrobacia aérea, perna de pau, monociclo e malabares, o espaço é um alento para a população de 6 mil habitantes do distrito. 

As aulas são oferecidas para crianças, adolescentes e jovens. “A arte empodera as crianças, principalmente as que não têm tantas oportunidades”, diz Ivana Nistico, fundadora do circo. “Recebemos alunos que chegam praticamente sem falar, sem olhar no olho, com a autoestima muito baixa. E um, dois meses depois, já estão no palco, se apresentando, recebendo aplausos de todo mundo. Os resultados são rápidos e claros.”

O circo está localizado no Bairro Novo, local periférico que sofre com escassez de serviços e aparelhos públicos. Por isso, além das aulas e dos espetáculos, o espaço também funciona como um centro social de convívio. Há desde psicóloga até grupos de meninas, para discutir a saúde feminina, por exemplo. Há ainda oficinas de fabricação dos instrumentos de percussão. “Mas o foco sempre foi o circo, porque é o que mais atrai, principalmente as crianças. O circo é mágico”, sorri Ivana.

Imagem: reprodução

Circo da Lua

Ivana Nistico é uma artista circense apaixonada pelo que faz. Professora de teatro e música, ela conta que sempre trabalhou misturando as três artes. O nome Circo da Lua, explica, deve-se à sua antiga mula, chamada Lua. Ela era quem puxava a carrocinha com as coisas do circo. “Íamos de carroça aos povoados pequenos. Só que isso durou pouco tempo, porque a realidade das estradas não permitiu continuar com esse projeto itinerante. Desistimos da mula, da carroça, e decidimos fazer um circo fixo, um circo escola.”

O circo foi inaugurado em 2013, em um terreno particular que foi cedido para uso durante um período. “Quando chegamos, não tinha sede, as aulas eram na pizzaria, na escola, lugares alternativos. Depois conseguimos esse espaço físico para montar nossa tenda. Com o tempo, o terreno foi adquirido pela Associação Cultural Circo da Lua”, lembra-se Ivana.

Ela conta que começou o circo sozinha com seu grupo e aos poucos foram chegando outros professores e artistas. Hoje, o circo possui uma equipe de 16 pessoas, composta por muitos ex-alunos, que viraram auxiliares de aulas, professores ou estão trabalhando na secretaria. A geração de renda é outro impacto indireto do circo. “Os jovens passaram a ter a primeira oportunidade de trabalho com o circo”, diz Marcos Oliveira, que faz parte da coordenação financeira da associação. Ele é natural do município e também encontrou no circo uma possibilidade de trabalho. 

Serra Grande – Uruçuca

De origem argentina, Ivana Nistico está radicada no Brasil há 15 anos. Ela conta que se estabeleceu na Bahia depois de um trabalho itinerante, em que percorreu os estados do Brasil de carona fazendo espetáculos com seu grupo Circo Comunidade, formado por dez argentinos e um brasileiro. 

“Desde os 17 anos visito o Brasil, então já tinha vindo antes, mas nunca trabalhando profissionalmente. E quando cheguei na Bahia, não voltei mais. Senti que aqui era minha casa por uma questão que eu não sei nem como explicar. É uma coisa espiritual, profunda.”

O grupo se estabeleceu primeiro em Arembepe, uma aldeia ao norte de Salvador. “Lá é uma aldeia com várias carências, uma comunidade bem vulnerável. Nosso intuito era levar espetáculos de circo e música. Começamos com atividades gratuitas, em parceria com a associação de moradores local”, recorda-se.

Após dois anos em Arembepe, foram conhecer Serra Grande, a convite de uma professora da aldeia que havia se mudado para lá. “A ideia era passar um mês, mas ela disse ‘daqui vocês não saem mais, vocês vão trabalhar aqui!’. Então conseguiram uma casa pra gente e aqui ficamos”, diverte-se Ivana.

Imagem: reprodução

Arte, diversão e conhecimento

Para este ano, o circo está montando um espetáculo especial que é uma adaptação de Fausto, a clássica obra de Goethe. O espetáculo é produzido junto com os alunos. Ano passado e retrasado, montaram O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Outros artistas também se apresentam no circo com espetáculos próprios. 

“As opções culturais oferecidas pelo circo dão acesso a arte para muitas crianças e jovens e toda a população de Serra Grande também é beneficiada com a programação  e  espetáculos”, indica Vinícius Teiole, professor de Circo Mirim, desenho e pintura. Ele também conta que dois ex-alunos de teatro foram estudar na universidade em Salvador. “Um deles passou em terceiro lugar na federal de teatro de Salvador e isso tem muito a ver com a formação aqui do circo”, orgulha-se.

Como funciona o circo

O circo oferece 300 vagas para estudantes entre 3 e 29 anos. A maior parte das vagas é ocupada por bolsistas integrais e 25% das vagas por aluno pagante. O valor arrecadado com as mensalidades ajuda a manter o projeto, junto com apoiadores, como as Madrinhas do Circo, um grupo de 25 mulheres que fazem doações recorrentes, bem como empresas parceiras, como a alemã Mahle, que oferece recursos por meio de editais culturais. 

Imagem: reprodução

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O Circo da Lua recebe doações via PIX: 20.649.052 – 0001 09 (CNPJ) – Associação Cultural Circo da Lua. Para saber mais sobre o projeto, acompanhe as redes sociais no Facebook, Instagram e You Tube.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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