Escritora lança livro para auxiliar mulheres sob violência doméstica

O livro “De Maria Bonita à Maria da Penha” é resultado de uma pesquisa sobre mulheres que enfrentaram diversas formas de violência 

12.04.22

Crédito: Divulgação

Por: Renato Silva – Lupa do Bem / Favela em Pauta

A psicóloga e escritora Dayse Marcello lançou, no apagar das luzes de 2021, seu livro “De Maria Bonita à Maria da Penha: desventuras das Marias do Brasil”, uma pesquisa que resgata a origem de mulheres, personagens marcantes da história do país, vítimas de várias formas de violência e que se tornaram símbolos de resistência.

“É um diálogo sobre as múltiplas violências direcionadas às mulheres em suas diferentes faixas etárias. Para tornar esse diálogo mais atraente e de fácil compreensão, resolvi trazer as experiências das ‘Marias do Brasil’ e através da experiência de cada uma delas, resgatar inspiração e maneiras diferentes de como as mulheres de hoje podem enfrentar a dominação masculina”, destaca Dayse. 

“O que mais me impressiona ainda é a constatação de que a sociedade ainda mantém influências sutis para manutenção da objetificação da mulher”, reflete.

Como exemplo disso, a autora traz uma análise no livro sobre a música ‘Maria Chiquinha’, uma música infantil que foi um sucesso entre o final da década de 1980 e início da década de 1990, cantada pela dupla Sandy e Júnior. 

“A música narra uma história de um casal onde o homem (Genaro) é ciumento e diz que se encontrar a mulher (Maria Chiquinha) com outro vai matá-la, cortando-lhe a cabeça e ‘aproveitar o resto do corpo’. Infelizmente, essa música, não foi a única a ajudar criar uma geração de “Genaros e Marias Chiquinhas”. 

De Maria Bonita à Maria da Penha

O livro, lançado ainda durante a pandemia, lança luz sobre um problema que se intensificou ainda mais no período de isolamento social. Algumas regiões, a exemplo da própria Baixada Fluminense, se mostraram mais afetadas, como mostra uma reportagem publicada no Favela em Pauta. Somente em 2020, 34% do total de feminicídios registrados naquele ano em todo o estado do Rio de Janeiro foram cometidos na Baixada Fluminense. 

Confira abaixo a entrevista com a escritora:

Como você avalia a legislação específica que busca prevenir atos violentos contra as mulheres? O que é avanço e o que ainda precisa ser feito?

Dayse Marcello: A Lei Maria da Penha é um ouro que precisamos preservar. Existem falhas no cumprimento dela, porque a política que executa a lei tem suas falhas historicamente reconhecidas. Mas não podemos desqualificá-la.

Tenho a esperança que tenhamos uma geração de “Marias” vivas, separadas e protegidas pela Lei Maria da Penha. Mulheres que não irão precisar pegar em armas para se livrarem de um relacionamento abusivo.  Isso é um avanço considerável.

Qual a importância de trazer as histórias dessas mulheres? 

Dayse Marcello: A autora relembra a história de Carolina Maria de Jesus, que dialoga com o momento da denúncia. “A Carolina de Maria Jesus é usada para incentivar a falar, a romper o silêncio. Tanto o silêncio da vítima, quanto o silêncio daqueles que vêm com ela no entorno. É muito importante que as pessoas se encorajem a denunciar”.

“O feminicídio está mostrando isso aí. Então, se nós conhecemos um amigo, vizinho, conhecido, uma pessoa que você viu no supermercado. Aí não dá para todo mundo olhar e ‘ó, né?’. Temos que [denunciar], é flagrante, né? Tem que se meter mesmo, ali naquele momento, e socorrer aquela mulher”, conclui.

 

Autor: Redação - Lupa do Bem
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