Dona de casa cria projeto social na laje de casa para impulsionar a capacitação da comunidade

Em meio à pandemia, Márcia Jerônimo transformou a vida de dezenas de crianças, jovens e adultos da Baixada Fluminense.

20.08.21

Foi observando jovens sentados na rua, sem fazer nada, sempre que tomava seu caminho para o supermercado ou padaria, que Márcia Jerônimo decidiu criar o Projeto Recomeçar. O objetivo inicial era capacitar adolescentes, de forma a incluí-los no mercado de trabalho, mas com o cenário inesperado da pandemia, que alterou profundamente as dinâmicas familiares e deixou milhares desempregados, Márcia entendeu que seria necessário criar uma iniciativa que abrangesse todas as faixas etárias. 

Situado numa viela no bairro Nossa Senhora do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, o Projeto Recomeçar funciona na laje da casa de Márcia. Um espaço pequeno, mas que cumpre seu papel. 

“Como será o futuro desses se não tiverem nada de positivo para ocupar suas mentes hoje? O que será que estão projetando sobre o próprio futuro? A situação para eles já era ruim, mas com a chegada da pandemia, tudo ficou pior, muitas coisas pararam e já não tinham mais como ir para a escola, cursos ou outra ocupação qualquer. Com a ociosidade suas mentes ficaram abertas para coisas não muito boas e, muitas das vezes, não era o que queriam de fato para eles mesmos”, explica a fundadora. 

Para ela, todo jovem tem um caminho a trilhar e uma história para viver, independente de sua condição social. “Mas se ele não tiver motivação, alguém que acredite nele, que o capacite, ele não vai ter um futuro de sucesso”. 

Como funciona o projeto

Curso de Capacitação Para o Mercado de Trabalho

O curso de capacitação não tem tempo de duração determinado, de forma que pode ser completado de acordo com o desempenho de cada aluno. “Tivemos um jovem que ficou um mês e quinze dias no projeto e logo em seguida começou a trabalhar; e tem jovens que estão no projeto desde o início e ainda não se qualificaram. O tempo que o aluno vai necessitar depende da dedicação de cada um”, pontua Márcia. 

As aulas são compostas por todas as matérias dadas nas escolas tradicionais e funcionam como uma espécie de reforço escolar. Além disso, os alunos contam com aulas de inglês três vezes por semana, ministradas por um beneficiário do curso que estuda a língua e compartilha seu conhecimento com os demais colegas. “Também trabalhamos outros temas como postura, uso de linguagem correta durante entrevistas de emprego, forma de se vestir, etc. A avaliação é feita mensalmente através de um questionário e, dependendo do resultado dela, o aluno é indicado para tentar uma vaga de trabalho”, complementa a fundadora do Recomeçar.  

As vagas de emprego são disponibilizadas através de uma parceria com a plataforma do Centro Institucional Social Capacitando Cidadão (CISCC). Adolescentes com 14 anos ou mais podem participar das oficinas.

Oficinas de Costura Criativa e Básica

Todo o maquinário, tecidos e materiais necessários para a costura são oriundos de uma antiga confecção que Márcia tinha. Com a extinção do negócio e criação do projeto, ela destinou todo o material que sobrou para as oficinas. Quando são necessárias reposições, as próprias beneficiárias costumam colaborar com dez reais mensais. 

O grande objetivo do grupo é montar uma feira de artesanato com as peças de produção própria e artesanal,  como bolsas, fronhas, aventais e outros. Em um futuro próximo, a ideia de Márcia é montar uma cooperativa de costura. 

As oficinas têm duração fixa de três meses. O primeiro dia é dedicado a apresentação e integração entre as mulheres; no segundo dia, as alunas conhecem os tipos de máquina de costura e os acessórios de cada uma; já a partir do terceiro dia, elas começam a prática, aprendendo o controle do motor, do corte e manuseio de moldes e tecidos. Em quinze dias todas estão aptas para confeccionar peças. 

Além de promover uma outra fonte de renda para essas mulheres e uma independência financeira, as oficinas também possibilitam que as mesmas tenham um meio de economizar, uma vez que se tornam aptas para confeccionarem suas próprias roupas e de suas famílias. 

Aulas de Balé Contemporâneo

“As crianças aprendem sobre posturas, a conhecer e a lidar com seus corpos. Também fazemos algumas palestras para falar sobre a importância de se ter uma vida não-sedentária. O objetivo é fazer com que cada uma delas possa conhecer seus corpos de uma forma lúdica através da dança”, explica Márcia Jerônimo. 

O curso hoje conta com 68 beneficiários, e a equipe de professoras é formada por 4 mulheres que dividem entre si as atividades. As aulas acontecem três vezes por semana, com duração de uma hora cada. A partir dos 5 anos de idade, as crianças já podem participar das aulas. 

Manutenção do Projeto

O projeto se mantém através de trabalho voluntário e de doações realizadas pelos pais dos alunos, comércios locais e simpatizantes. Supermercados e padarias contribuem com alimentos para o lanche, os armarinhos e bazares doam materiais para as atividades e as mercearias doam produtos de limpeza. Os vizinhos também se envolvem com o projeto na medida do possível, e de acordo com a disponibilidade de cada um. 

Além disso, o fato deste ser o primeiro projeto do tipo na região mobiliza as redondezas para que ele dê certo e continue ativo. 

Conquistas e desafios

“Conseguimos contratos de trabalho para alguns jovens alunos que hoje estão empregados e com registro em carteira e, através dessa vitória, o projeto ganhou mais confiança e liberdade para seguir desenvolvendo as atividades aqui. Considero também uma vitória o retorno que sempre recebemos dos beneficiários do projeto: mulheres relatando que a costura as ajudou a serem pessoas melhores porque elas estão tendo a oportunidade de gerar renda própria, o que resulta em independência financeira”

Mas, ainda que o Projeto Recomeçar tenha muitos resultados positivos, ainda existem grandes desafios para Márcia, como a ausência de recursos financeiros para continuar com as portas abertas. “Os voluntários vêm, mas não posso contar 100% com eles porque são pessoas muito carentes e que estão desempregadas, precisam de dinheiro para sobreviver. Além disso, por serem voluntários e não funcionários fixos, existe uma inconsistência no trabalho”. 

Depoimentos de beneficiários

“O Projeto Recomeçar é importante não só pra mim, mas creio que para todos os participantes, pois muitas pessoas antes se achavam despreparadas para o mundo do trabalho. O projeto nos prepara totalmente para viver essa experiência, que é novidade para muitos.”, Cleyton Soares, 17 anos.

“O Projeto é importante para mim e para muitos outros jovens pelo fato de que nos torna mais autoconfiantes para a vida no mercado de trabalho. No projeto estão nos ajudando a entender de tudo um pouco, o que a gente vai ou pode passar em uma empresa, etc. Sem contar que abrem portas para nós todos os dias. Creio que tem muitos jovens, assim como eu, que são 100% gratos ao projeto. ”, Linda Jenifer Morozenvisk de Lima, 15 anos.

“O Projeto Recomeçar tem nos dado a oportunidade de crescermos como pessoas e aprendermos como nos colocar no mercado de trabalho. O projeto abre oportunidades para jovens que talvez a sociedade nunca daria oportunidade, e tem sensibilidade de olhar para nós com um olhar de crescimento! ”, Gustavo Pereira, 18 anos. 

“Sou muito grato pelo projeto Recomeçar. Literalmente o projeto mudou minha vida pra melhor, me capacitou no mercado de trabalho impulsionando minha mente a pensar cada vez mais no lado financeiro e a ser um bom profissional. Graças ao projeto, hoje estou trabalhando, com a carteira assinada e, se Deus quiser, terei um futuro maravilhoso. E tudo isso com a ajuda do Projeto Recomeçar. ”, Rafael, 15 anos.

Interessado em ajudar?

Entre em contato com a Márcia para saber como ajudar.

Telefone: (21) 99389-2918

E-mail: Jeronimomarcia1978@gmail.com

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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