Água Camelo garante acesso à água potável nas comunidades, das periferias das cidades ao interior da Amazônia

Por meio de parcerias com grandes empresas e organizações, jovens empreendedores levam equipamento inovador e água potável a localidades vulneráveis

14.03.24

Três jovens do Rio de Janeiro ainda estavam na faculdade de Design na PUC quando perceberam que a dificuldade de acesso à água nas comunidades da cidade poderia ser resolvida com estratégias de mercado. O que era para ser um projeto de faculdade virou a Água Camelo, um negócio de impacto social que leva água potável a localidades vulneráveis por meio de parcerias com grandes empresas e organizações.

Em ação desde 2020, o negócio surpreende por onde passa. Com mochilas acopladas a potentes filtros de água, já beneficiaram mais de 50 mil pessoas, das periferias das cidades ao interior da Amazônia. A primeira comunidade a ser impactada foi o Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Depois, com a pandemia, kits foram entregues nas favelas da cidade como ferramenta para mitigar os impactos de Covid-19, o que gerou ampla visibilidade na mídia. 

O cofundador Rodrigo Belli conta que, quando começou o projeto na faculdade, não fazia ideia do que era um empreendimento social. Então, foi estudar a fundo o processo de urbanização informal no Rio de Janeiro. “Comecei a visitar esses territórios, entender as dificuldades e percebi que o acesso à água, dentre todas as outras dificuldades, era o problema mais ignorado nas favelas”, lembra. 

Água Camelo

Rodrigo Belli foi tocado pelo que viu nas comunidades e disse que iria até o fim para transformar a ideia em um negócio. Se inscreveu em um programa de aceleração de empresas, o Shell Iniciativa Jovem e estudou Design de produtos na Faculdade de Parsons, em Nova York, Estados Unidos. Assim, conseguiu aprimorar o Mínimo Produto Viável. 

Quando voltou para o Brasil, distribuiu alguns kits nas comunidades do Rio de Janeiro. E, em meio a uma grande divulgação na mídia, fundou a empresa ao lado de outros dois sócios, João Piedrafita e Daniel Leite. “Saiu uma nota no jornal O Globo sobre os kits que estávamos distribuindo nas favelas e tivemos uma avalanche midiática. Demos entrevistas para mais de 30 veículos de comunicação, então eu e meus dois sócios fundamos a empresa. Nos primeiros quatro meses, entregamos quase 500 kits em sete estados do país”, conta Belli, hoje o CEO da Água Camelo.

Com isso, Belli recebeu o reconhecimento da Forbes Under 30 em Arquitetura, Design e Urbanismo e a Água Camelo ficou entre as empresas finalistas em diversos prêmios, como o Prêmio Empreendedor Social do Ano, do grupo Folha, e o Prêmio da Agência Nacional das Águas, ambos de 2023. Hoje, a startup é considerada líder em acesso à água tratada para populações em situação de vulnerabilidade, principalmente no interior da Amazônia, região abundante em água, porém que sofre com a escassez de infraestrutura e serviços de água tratada. 

Imagem: reprodução.

Negócio de Impacto Social

Atualmente, a Água Camelo está presente em 14 estados do Brasil. Para distribuir os equipamentos de abastecimento e filtragem de água nas comunidades, primeiro os gestores estabelecem contato com organizações e lideranças locais, como Central Única de Favelas (CUFA), Gerando Falcões, Coletivo Papo Reto, agentes indígenas, etc.   

“Sempre fazemos parcerias com organizações e pessoas da comunidade que já estão inseridas no território, porque elas têm a confiança da população, possuem o conhecimento sobre o território, sabem quem de fato precisa de acesso à água e o que é preciso fazer para o projeto acontecer”, explica Belli. 

Além disso, fazem parcerias com organizações humanitárias, como Unicef, Humanitas, USAID e Visão Mundial. Ao mesmo tempo, associam-se com grandes marcas, como Ambev, Coca-Cola e Nestlé. “Não vemos nosso trabalho como uma questão de filantropia, e sim como uma falha de mercado, porque existe um mercado consumidor, existe uma necessidade, e nós criamos uma solução para isso”, destaca. 

Estratégia de mercado

A parceria com as marcas acontece por meio dos programas de Responsabilidade Social Corporativa e princípios de ESG. “Hoje em dia, temos um viés muito voltado para  o marketing. Nós entendemos que podemos ser uma excelente ferramenta para bater as metas ESG e CSR, porque conseguimos desenvolver todo o projeto a partir da demanda dos nossos clientes e dos territórios”, afirma o CEO. 

Dessa forma, para avaliar o impacto que a Água Camelo promove, eles desenvolveram uma metodologia própria que quantifica e qualifica os resultados das atividades nas comunidades. Esses dados são repassados aos clientes, permitindo que eles alcancem suas metas de governança corporativa e de práticas sociais e ambientais. 

“Muitas vezes, nós conseguimos trazer para nossos clientes um ganho intangível. Por conta da nossa atuação com os Ianomâmis, por exemplo, conseguimos uma matéria de dois minutos no Jornal Nacional, onde estávamos com a camisa do patrocinador, que é a Ambev/Ama. Imagina quantos milhões eles teriam que gastar se fosse um comercial de dois minutos no Jornal Nacional?”, avalia Belli.

Os três sócios da Água Camelo: João Piedrafita, Rodrigo Belli e Daniel Leite. Imagem: reprodução.

Acesso à água potável

O impacto social é inegável, o que tem feito com que os gestores da Água Camelo sejam convidados para grandes eventos em todo o mundo. Eles já foram discursar na Conferência Mundial da Água, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), e vão participar do Fórum Mundial da Água, que será realizado ainda este ano em Bali, na Indonésia. 

Nesses eventos, costumam estar acompanhados de seus parceiros, aumentando ainda mais a visibilidade do impacto, tanto das organizações e empresas, quanto do próprio negócio. A Unicef, por exemplo, se juntou à Água Camelo por meio de um convênio com a Coca-Cola e a Ambev/Ama, que garantiu a instalação de filtros de água durante a crise humanitária que assolou a Terra Indígena Ianômami. 

“Conseguimos trazer dois gigantes concorrentes do mercado, que se juntaram para gerar um benefício em comum para a sociedade através da nossa ferramenta. Também trouxemos a Unicef para compor esse pool. Nós que articulamos esse movimento”, afirma. 

Além de fazer coleta e análise sobre a qualidade da água nas localidades onde atua, a Água Camelo também desenvolve um processo de educação sobre a qualidade da água. “Muitas vezes, as pessoas não percebem que a diarreia que ela ou o filho está tendo é por conta da água. Por isso fazemos os testes, para comprovar que a água pode estar transparente, translúcida, parecer perfeita, mas na verdade tem contaminantes”, aponta. 

“É claro que existe água potável na natureza, mas estamos falando de territórios em situação de extrema vulnerabilidade, onde há muitas doenças e até mortes relacionadas a consumo de água não tratada”, finaliza. 

Imagem: reprodução.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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