Mães do Curió, laço que nem a morte desata

No Ceará, projeto criado por e para mães de vítimas da letalidade policial busca na coletividade o apoio que não vem do Estado

18.07.22

Crédito: Divulgação

Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta

O Movimento Mães do Curió, fundado no Bairro do Curió, periferia de Fortaleza – CE, é uma organização que há quase 7 anos cria espaços de acolhimento e luta por justiça, para mães e parentes de vítimas, em casos de violência armada do Estado contra a juventude das periferias. 

Em novembro de 2022, completa-se sete anos desde a maior chacina provocada por agentes do estado na história do Ceará. É assim que é referenciada a Chacina do Messejana, ou do Curió, onde 11 jovens foram assassinados por 34 policiais militares do estado. Até hoje, os familiares de cada um deles lutam pela continuidade de suas vidas com dignidade contra a impunidade dos responsáveis pelas mortes de seus filhos. Foi assim que o Movimento de Mães e Familiares do Curió surgiu.

Edna Carla é uma das lideranças do movimento. Mãe de Álef, hoje além de trabalhar como cuidadora de idosos, ela se tornou uma ferrenha ativista dos Direitos Humanos e co-fundadora do Movimento Mães da Periferia de Vítimas por Violência Policial do Ceará. Porque “onze vítimas que foram tombadas em 2015 não foram suficientes para acalmar o estado”, comenta, a intenção é fazer com que outras mães não precisem passar pelo que elas têm passado.

A ativista conta que além de reivindicar justiça pelos assassinatos e a preservação da memória dos filhos, atentar e prestar auxílio à saúde mental dos familiares de cada uma das vítimas é mais uma das frentes de lutas mais fortes do movimento. Além da depressão, o suicídio de mães de filhos assassinados quando ainda estão começando a viver adolescência é uma das maiores preocupações. É no movimento de mães que elas buscam e retribuem apoio para seguir nos processos jurídicos e pessoais. “É no autocuidado que a gente se fortalece”, afirma Edna.

Acompanhamento do caso que motivou sua criação  

Desde 2015 essas mulheres passaram a integrar o movimento nacional por justiça para as vítimas da violência do estado. Constroem espaços como a Campanha Nacional de Mães por Memória, Justiça, Garantia de Direitos, Pão e Vacina a todos, a Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo do Estado e o Fórum Popular de Segurança Pública. Hoje elas consideram que a justiça do Ceará é pouco ágil quanto a responsabilização das pessoas que assassinaram seus filhos.

45 policiais foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará em 2015 pela morte de Álef Souza Cavalcante, Pedro Alcântara Barroso do Nascimento Filho, Jandson Alexandre de Souza, Renayson Girão da Silva, Patrício João Pinho Leite, Jardel Lima dos Santos, Antônio Alisson Inácio Cardoso, Marcelo da Silva Mendes, Valmir Ferreira da Conceição, Francisco Elenildo Pereira Chagas e José Gilvan Pinto Barbosa.

34 foram para o júri popular, 10 foram considerados impronunciados por não ter prova suficiente para serem considerados réus e a denúncia contra o Coronel Plauto Roberto de Lima Ferreira não foi aceita. Alguns dos acusados já até voltaram a trabalhar com algumas restrições. As mães se veem indignadas em ver que ainda pagam o salário de quem tirou seus filhos.

Audiolivro em defesa da memória das vítimas e Mães do Curió 

Na luta pela memória das vítimas, o Movimento Mães e Familiares do Curió lançou em 2021 um livro e um audiolivro sobre eles. Foi nesse intuito que o ONZE foi produzido e nele  é possível conhecer um pouco sobre as vítimas, mas também sobre as mães que ficaram órfãs deles, assim como o desenrolar dos processos legais que envolvem o caso. Além deles, o documentário intitulado “Onze – a chacina de Messejana” também foi realizado através da produtora Nigéria Audiovisual.

As Mães do Curió seguem atentas e cada vez mais engajadas na luta por justiça para seus filhos e todas as mães que viram a vida dos seus serem abreviadas pelas mãos e armas do Estado. “Na favela a gente só vê as mães faveladas enterrando seus filhos porque parece que na favela a única coisa que precisa é de morte. Na periferia não chega o atendimento psicológico pras pessoas, o atendimento de saúde necessário, não vem nada que vai favorecer o pobre”, destaca a liderança Edna Carla.

Como apoiar o trabalho do Movimento Mães do Curió

Para apoiar e possibilitar que as Mães do Curió sigam oferecendo acolhimento às mães e parentes das vítimas, além de fortalecer a luta por justiça, é importante acompanhar o trabalho da organização nas redes sociais, como o perfil @movmaesdocurio no instagram, e também engajar nas diversas iniciativas, a exemplo do audiolivro ONZE, no Spotify.

Para outras formas de apoio pontuais, a o movimento disponibiliza os seguintes endereços de e-mail: maesdaperiferia2020@gmail.com, ednacarla4949@gmail.com, ednacarla1820@gmail.com.

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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