Agricultura urbana: inspire-se em quatro hortas comunitárias nas maiores cidades do Brasil 

Hortas urbanas recuperam áreas degradadas, garantem segurança alimentar e defendem uso do território

01.11.23

Com populações cada vez mais concentradas em áreas urbanas, a produção de alimentos na cidade tornou-se fundamental para democratizar o acesso à alimentação saudável e estimular circuitos curtos de comercialização. Além de garantir segurança alimentar, as hortas urbanas ampliam os espaços verdes, protegem os mananciais, promovem ocupação sustentável de espaços ociosos, entre outras vantagens ambientais. Para saber mais detalhes, o Lupa do Bem conversou com agricultores de quatro hortas urbanas nas maiores cidades do Brasil. Confira!

Telhado Verde Agroecológico

Localizada no bairro Engenho da Rainha, zona norte do Rio de Janeiro, a horta urbana Telhado Verde Agroecológico é um espaço de resistência na Serra da Misericórdia. A região, nas imediações do Complexo do Alemão, concentra 26 bairros e vem sofrendo os impactos da exploração econômica e da ocupação desenfreada. “Tem a pedreira destruindo de um lado, a especulação imobiliária do outro, problemas ligados ao crime organizado, então temos tentado defender a serra com vários projetos, a horta é um deles”, conta o co-fundador Ricardo Devita.

A horta produz, em média, meia tonelada de alimentos agroecológicos por mês. Os produtos são diversificados, com destaque para o limão siciliano, palmito pupunha, pitaya e frutas vermelhas. O projeto integra o Programa Municipal Hortas Cariocas, de combate à fome e à miséria, em que metade da produção é doada aos moradores do entorno. A outra metade dos alimentos é comercializada por meio das cestas de orgânicos e vendida em diferentes feiras na cidade do Rio de Janeiro.  

O objetivo é garantir a segurança alimentar. “Nas periferias existe uma desertificação alimentar muito grande, vende-se muito mais alimentos embutidos e ultraprocessados em geral do que alimentos in natura. Então a horta é uma alternativa para ter acesso a um alimento de qualidade”, diz o cofundador Yuri Zion. 

A horta Telhado Verde Agroecológico faz parte da Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU), possui o selo agroecológico Produtos da Gente, é certificada orgânica pela ABIO e membro do coletivo Sementes Urbanas da Serra da Misericórdia. A horta também realiza parcerias com as ONGs Verdejar, Gastromotiva, Sólo Fértil, entre outras, além de oferecer serviços de implementação de horta, jardim vertical, recuperação de área degradada, sistemas agroflorestais e reflorestamento. 

Escolas podem agendar visitas com oficinas pedagógicas sobre produção de alimentos e preservação ambiental. Para mais informações, o perfil do Instagram é @telhadoverdeagroecologico.

Horta Telhado Verde Agroecológico, Rio de Janeiro. Imagem: reprodução.

Hortas Urbanas Salvador

Wilson Brandão era um empresário bem sucedido de Salvador quando resolveu fechar os negócios para dedicar-se integralmente ao projeto Hortas Urbanas Salvador. Criada em 2017, a horta está localizada em uma das áreas mais nobres da capital baiana, no bairro Pituba, e ocupa um espaço de 4.800 metros. 

Ele conta que os moradores dos prédios faziam reforma nos apartamentos e jogavam todo entulho das obras em um terreno abandonado da prefeitura próximo ao seu local de moradia. “Passei nove meses tentando conseguir a liberação da prefeitura para fazermos a horta. O terreno era público e estava sendo usado como área de depósito de lixo. O projeto tinha como objetivo ressignificar aquele espaço urbano. Quando fizemos a limpeza, tiramos 60 toneladas de lixo”, lembra Wilson. 

A produção de alimentos é agroecológica e inclui diversas frutas, como banana, graviola, caju, manga, abacate, jaca, sapoti, caju, acerola, laranja, mamão, figo, ameixa, entre outras. Há muitas plantas alimentícias não convencionais (PANCS) e plantas medicinais: taioba, ora pro nobis, caruru, bredo, capim santo, erva cidreira, melissa, erva doce, etc. 

A horta ainda mantém 24 colméias de sete espécies diferentes de abelhas nativas. “Com isso preservamos as espécies, contribuímos com a polinização e combatemos as pragas”, explica. Toda a produção é doada às casas de acolhimento de pessoas idosas de Salvador. Atualmente, são atendidas seis casas no total, com uma média de 50 idosos cada. Além dos alimentos, o projeto Hortas Urbanas Salvador também faz arrecadação de material de limpeza, higiene pessoal e fraldas geriátricas para os idosos.

A horta é aberta para visitação de escolas infantis e promove com frequência o evento educativo Prosas e Saberes, aberto ao público em geral, em que convidam nutricionistas e agricultores orgânicos para falar sobre alimentação saudável. Por conta da pandemia, a horta ficou inativa durante dois anos e meio e está fazendo a retomada neste momento. Por isso, doações e voluntariado são muito bem-vindos. 

Para maiores informações, o perfil no Instagram é @projeto_hortas_urbanas_ssa

Projeto Hortas Urbanas Salvador, Bahia. Imagem: reprodução.

Horta Girassol

A Horta Girassol surgiu em 2005, após um surto de rotavírus na cidade de São Sebastião,  Distrito Federal. “Descobrimos que o surto vinha dos ratos, então decidimos limpar um lixão e começar a horta”, recorda-se a agricultora urbana e presidente do Instituto Girassol, Hosana Alves do Nascimento. 

A horta começou com dois canteiros e hoje ocupa um hectare, equivalente a 10 mil metros quadrados. Metade desse espaço é usado para o cultivo de hortaliças, frutíferas, criação de peixe, criação de carneiro e uma cozinha comunitária. No total, dez famílias participam do manejo, além do time de voluntários que ajuda nos mutirões. 

A produção é toda agroecológica e sua manutenção é feita pelo sistema CSA (Comunidade que Sustenta a Agricultura), em que os co-agricultores pagam uma cota mensal em troca de cestas de alimentos semanais. A outra parte da produção é doada para uma creche, entregue para uma cooperativa – que comercializa os alimentos para terceiros, ou vendida a preço de custo para a comunidade local.

A expectativa é transformar a horta em uma escola: “Temos uma cozinha montada, onde fazemos cursos e também processamos os alimentos, então a ideia é poder transformar a horta numa escola de agroecologia para continuar com essa capacitação”, diz Hosana.

Para quem deseja participar dos cursos, do plantio ou do manejo, a horta costuma disponibilizar links de inscrição pelo Instagram. 

Para saber mais, o perfil no Instagram é @hortagirassol

Horta Girassol, Distrito Federal. Imagem: reprodução.

Horta da Saúde

A Horta Comunitária do bairro da Saúde, localizada na zona sul de São Paulo, completou dez anos neste mês de novembro. O ambientalista Sérgio Shigeeda, hoje falecido, foi quem fundou a horta com ajuda de familiares e moradores da região, no final de 2013. O objetivo era dar um destino a um espaço público abandonado, que concentrava sujeira, lixo, entulho e mato. 

Todo o processo de implementação da horta foi feito com base na permacultura, para promover a preservação dos recursos naturais, segurança alimentar, a diversidade agrícola e divulgar as PANCs. Assim, Sérgio priorizou a implantação sustentável: para montar a horta, foram reaproveitados materiais como madeiras, tijolos e telhas coletados em caçambas.

Além disso, a captação da água da chuva é feita em cisternas e há uma composteira termofílica e minhocário, que faz o tratamento dos resíduos orgânicos gerados no local e de podas na vizinhança, que depois são utilizados como adubo. Mais tarde também introduziu as abelhas sem ferrão, importantes polinizadoras. 

A horta conta com o apoio da subprefeitura da Vila Mariana e é mantida por um grupo de voluntários que moram nas proximidades. O manejo é feito três vezes por semana, no período da manhã. O foco principal são as PANCs, como ora pro nobis, taioba, capuchinha e outros. 

Mesmo assim, o cultivo é diversificado e inclui desde plantas convencionais como alface e rúcula até plantas medicinais, flores, frutíferas e temperos.  “A maior parte desses alimentos é consumida pelos próprios voluntários. Não temos uma grande produção, mas sempre deixamos aqui para quem quiser pegar”, explica a agricultora urbana e Conselheira do CADES Vila Mariana, Elza Ayako Kusaka. 

No segundo domingo de cada mês é feito o mutirão, com oficinas de temas variados. “É uma oportunidade para as pessoas ampliarem conhecimentos e aprendizados. Um dia para celebrar a natureza junto com as pessoas que doam um pouco de seu tempo. Enfim, um dia de muita conversa boa, comida, música e alegria”, diz Elza.

Para maiores informações, o perfil no Instagram é @hortacomunitariasaude.

hortas urbanas
Horta da Saúde, São Paulo. Imagem: reprodução.

Quer apoiar essa causa?

Agende uma visita ou entre em contato pelo WhatsApp! 

Telhado Verde Agroecológico 

Rua Sérgio e Silva, 50. Engenho da Rainha. Rio de Janeiro – RJ.

WhatsApp: (21) 97492-7675

Horta Girassol 

Área Especial, Quadra 12, Morro Azul. São Sebastião – DF.

WhatsApp: (61) 9998-0973

Hortas Urbanas Salvador 

Av. Paulo VI, Pituba. Salvador – BA. 

WhatsApp: (71) 98348-8015

Horta da Saúde

Rua Paracatu 66 (final da Rua Uvaias, metrô Saúde). São Paulo – SP. 

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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