Com nome de patuá, Gris Espaço Solidário semeia a esperança com a juventude periférica do Recife

Familiares também são beneficiados por meio das mais diversas ações realizadas pela organização

16.09.22

Crédito: Divulgação

Por: Kauana Portugal – Lupa do Bem / Favela em Pauta

É em uma casa, localizada no bairro da Várzea, periferia da Zona Oeste do Recife (PE), que o Gris Espaço Solidário mantém, desde 2018, sua sede em plena atividade. O nome faz referência aos patuás de origem africana (gris-gris) responsáveis por garantir proteção e sorte para aqueles que acreditam. Já a ONG vem oferecendo apoio lúdico e psicopedagógico para crianças, jovens e adultos como uma forma de levar esperança a um cenário de acirrada vulnerabilidade socioeconômica.

Em 2018, quando foi criado pela cientista social Joice Paixão, o projeto encontrava sua razão de ser na garantia de aulas de reforço escolar para crianças com dificuldades de aprendizagem e auxílio lúdico-terapêutico, com ênfase no fortalecimento da autoestima e reconhecimento étnico-racial dos mais jovens. 

A popularização do espaço, no entanto, levou a ONG a ampliar o funcionamento. Neste ano de 2022, por exemplo, está prevista a criação de uma cooperativa de mulheres, pensada para promover a empregabilidade e autonomia das chefes de família. 

“Depois de terminar a faculdade, eu me deparei com organizações tão burocráticas quanto o estado. O Gris surge no sentido oposto, no intuito de fazer as pessoas serem vistas e ouvidas, respeitadas em suas demandas”, conta Joice. 

Atualmente, os serviços ofertados são organizados entre os eixos pedagógico, com aulas de tecnologia, artes, jornadas de formação sociopolítica, entre outros, e também o terapêutico, por meio de mutirões para atendimentos ligados à saúde e assistência. Este último é direcionado ao combate à insegurança alimentar, com doação de cestas básicas, kits de limpeza e higiene. 

O impacto da chegada da covid-19

Há dois anos, antes do período mais agudo de casos de coronavírus, a média de jovens atendidos pelo Gris era de 80 crianças e adolescentes. Porém, com o agravamento da pandemia e também por conta da perda de renda entre os integrantes e moradores da comunidade, as necessidades aumentaram.

Hoje, cerca de 500 famílias passaram a contar com a organização para a obtenção de itens básicos, como máscaras e outros equipamentos de proteção individual.

“Nós distribuímos 20 mil máscaras na comunidade, além de filtros de barro e outros itens. Quando as primeiras doses de vacina começaram a chegar ao Brasil, fizemos um levantamento para entender quais moradores eram considerados grupo de risco e deveriam ter prioridade no processo de imunização”, explica Joice Paixão. Com a ajuda de doações, o Gris também fez a instalação de duas pias comunitárias nas ruas do bairro.

As chuvas de maio e seus efeitos

Em maio de 2022, o Brasil e o mundo assistiram aos efeitos das intensas chuvas que se derramaram pela Região Metropolitana do Recife e Zonas da Mata pernambucana, arrastando casas e provocando deslizamentos fatais em áreas de morros e encostas. E no território onde o Gris Espaço Solidário tem incidência, não foi diferente. 

Embora não haja registros de mortes de moradores da Várzea, muitos foram obrigados a se retirarem de suas casas por risco de desmoronamentos. 

Enquanto isso, outras pessoas chegaram a presenciar as águas do Rio Capibaribe invadindo as residências. Casas estas que foram construídas em área de vulnerabilidade, por falta de investimento público na questão de moradias dignas em regiões periféricas.

“A época de cheia foi um processo adoecedor, a gente não conseguia dormir porque sabia que coisas piores poderiam acontecer. As famílias que estavam bem, dentro de suas casas, perderam o mínimo necessário. Outras, que já não possuíam muita estrutura, ficaram sem nada”, explica a responsável pela Gris Espaço Solidário. 

Enfrentando essa realidade, a ONG precisou mobilizar voluntários para ações emergenciais, sobretudo na arrecadação de mantimentos e roupas, além de eletrodomésticos e outros itens necessários. 

Sem nenhum Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) por toda a extensão do bairro, os moradores veem no Gris a responsabilidade que deveria ser do Estado: a efetivação de políticas públicas. 

Fortalecimento da autoestima e combate à intolerância

Mais da metade dos jovens atendidos pelo Gris Espaço Solidário são negros. Muitos deles, como conta Joice Paixão, passaram a enxergar a potência da negritude após o engajamento nas atividades da ONG. “O comportamento muda. Na escola, onde alguns costumavam sofrer racismo, eles têm tido a coragem de afirmar suas características com orgulho, denunciando toda espécie de preconceito”, atesta.

Ainda nesse sentido, a criação de pontes intergeracionais têm sido outro ponto alto para a sensibilização de temas como o combate à intolerância e à LGBTfobia. Entre os voluntários da iniciativa, há pessoas cis, trans, de diferentes religiosidades e também de orientações sexuais distintas, incentivando a troca e o respeito entre pessoas diversas. 

Para Joice, que também atua como coordenadora de atividades do espaço, “as crianças levam esse aprendizado para casa. E o que ocorre é que os familiares também aprendem”. 

Para continuar lutando, o Gris Espaço Solidário precisa de ajuda 

Com os recursos drenados para atender pessoas em situações emergenciais, o Gris Espaço Solidário precisa de ajuda para seguir funcionando. Através do perfil no Instagram é possível acompanhar os inúmeros pedidos de ajuda, sejam financeiras ou de qualquer outra natureza. As necessidades vão desde fraldas, produtos de limpeza e até alimentos. 

Gris Espaço Solidário

Atualmente, as atividades no espaço estão com horários reduzidos por falta de verba para a compra dos lanches oferecidos às crianças e jovens participantes dos cursos. 

Para ajudar o Gris a continuar fazendo esse trabalho, é possível doar por meio da chave PIX 8198231-4011, em nome de Joice Poliana Paixão. No perfil do Instagram @gris.solidario você pode acompanhar as atividades e campanhas realizadas. O Gris Espaço Solidário fica na Rua Diogo Barbosa Machado, número 15, no bairro da Várzea, em Recife – PE.

    Arte Ocupa
    Arte Ocupa
    Precisando de: Doações Voluntários
    Localização
    Contato
    Apoio
Autor: Redação - Lupa do Bem
Compartilhar:
Notícias relacionadas