Caminhar de casa em casa para evitar a evasão escolar: a história da ONG El Arca e sua luta pelos direitos das crianças

Eles trabalham em Moreno, Província de Buenos Aires. As atividades dessa associação civil impactam a vida de 5.000 crianças. Eles dedicam atenção especial à educação

22.02.24

Por Paula Galinsky

El Arca tem 23 anos de história. Esta associação civil começou a operar na Cidade de Buenos Aires, na Argentina, a partir da criação de um lar para acolher e acompanhar crianças em situação de rua. O projeto, que teve Betina Perona como uma das suas três fundadoras e atual presidente, evoluiu ao longo do tempo.

Com o passar do tempo, eles mudaram o foco da proposta para o partido de Moreno, na Província de Buenos Aires, e finalmente se concentraram nas famílias do bairro de Cuartel V, em Los Hornos. “Nosso objetivo passou a ser evitar que mais crianças acabassem nas ruas, por isso decidimos oferecer-lhes ajuda integral”, conta Betina à Lupa do Bem.

O trabalho é diário e minucioso, e um dos pontos principais é garantir os direitos das crianças e adolescentes. Eles colaboram na alfabetização e buscam prevenir a evasão escolar. No total, a ONG impacta a vida de 5.000 crianças da região.

Seu trabalho inclui visitar casa por casa para encontrar as crianças que não estão frequentando a escola. “Contamos com uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, sociólogos, professores, licenciados em educação e uma advogada, que sou eu”, detalha a presidente da ONG.

Equipe de profissionais da El Arca. Crédito: El Arca

E ela explica: “Há casos de violência, outros de dificuldades para chegar à escola (devido ao estado das ruas ou ao custo do transporte). Também nos deparamos com situações em que as crianças precisam ficar em casa cuidando de seus irmãos mais novos. Tentamos identificar suas dificuldades e colaborar para resolvê-las e fazer com que a criança consiga voltar para a aula”.

Não é sempre possível, mas é para isso que se dedicam. Um dos pilares está relacionado com a educação e nesse caminho monitoram a escolaridade de 750 crianças que frequentam o ensino fundamental e médio. Também oferecem uma sala de alfabetização, levando em consideração que algumas crianças que passaram para o terceiro ano ainda não sabem ler nem escrever.

Isso não é tudo. Além disso, há um apoio escolar virtual, pelo qual voluntários de todo o país passaram e que hoje inclui estagiários universitários. “Eles estão disponíveis uma vez por semana para responder dúvidas e fazer o acompanhamento de cada criança”, comenta Betina e garante que, na maioria dos casos, esse contato é telefônico.

O El Arca também tem pontos de encontro, que são espaços nas portas das escolas onde os representantes da ONG dedicam seu tempo para aconselhar as crianças e suas famílias em termos de direitos. “A ideia é que eles possam nos consultar ou pedir ajuda. Também emprestamos livros e brinquedos para levarem para casa”, acrescenta.

Aos sábados à tarde, a cada 15 dias, eles acrescentam uma ludoteca e uma sala de aula móvel itinerante. Também têm uma escola de futebol.

A proposta inclui uma área de participação cidadã. Eles colaboram na formação dos conselhos de sala em diferentes escolas, para resolver conflitos que possam surgir dentro da escola, e também desenvolvem conselhos territoriais nos quais as crianças levam as necessidades do bairro para que posteriormente cheguem aos funcionários locais. “São abordados temas como a falta de iluminação em uma rua ou o pedido de uma praça para o bairro”, comenta.

“Cuartel V é uma área muito ampla onde vivem pessoas em situação de grande vulnerabilidade. Moreno, por sua vez, é um dos lugares mais pobres da Província de Buenos Aires”, destaca Betina, que confirma que são muitas as necessidades não atendidas e que o papel das organizações que trabalham no território é fundamental.

Eles são financiados por meio de apadrinhamento, ou seja, por pessoas que fornecem uma contribuição mensal solidária. “Atualmente temos 1.100 padrinhos que cuidam de uma criança do bairro. Enviamos periodicamente informações sobre a situação escolar de seu afilhado e também podem visitá-lo”, aponta Betina, que diz que seria muito útil agregar mais e mais colaboradores.

Para se tornar padrinho do El Arca, é necessário acessar www.elarca.org.ar.

Autor: lupadobem
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