Coletivo “Ponta de Lança” transforma narrativas nas periferias

Liderado por duas mulheres, o projeto mostra a realidade das periferias amazônicas, contando as histórias de seus moradores

12.08.22

Crédito: Divulgação.

Por: Alicia Lobato – Lupa do Bem / Favela em Pauta

O Coletivo Ponta de Lança foi fundado no ano de 2018 e conta histórias, por meio de produções audiovisuais, que representam com precisão como é a vida nas periferias da região amazônica.

Quando decidiram começar com o Coletivo Ponta de Lança, Raquel Cardoso e Jéssica Valois buscavam uma forma de intervir no contexto social dos bairros e comunidades periféricas locais. Com foco em comunicação popular, a dupla tem o objetivo de descentralizar narrativas e mostrar como as periferias do norte são diversas.

Isso aconteceu depois de perceberem que o discurso acadêmico não era acessível para todos, aí então a dupla decidiu mudar a forma de comunicar. Assim, encontraram na própria comunidade em que vivem uma maneira de fortalecer histórias de moradores de periferias, que muitas vezes não têm espaço para compartilhá-las.

Durante a pandemia da covid-19, o coletivo percebeu que poderia contribuir ainda mais se atuasse no combate à desinformação sobre o vírus, que também contagiou nas comunidades. Viram dessa forma, e mais uma vez, que a comunicação era a resposta para o novo problema. 

Depois desse início, o coletivo quis olhar ainda mais para a periferia. O trabalho começou a ser desenvolvido para mostrar que as comunidades na região Norte existem de uma maneira diferente. 

Raquel, uma das criadoras do projeto, conta que as pessoas a quem buscam entrevistar para contar histórias são habitantes, em maioria, dos bairros onde elas mesmas moram. Para ela, o principal objetivo sempre foi “empoderar essas narrativas que não são vistas, não são legitimadas enquanto discurso que fala da territorialidade, e muitas vezes deixada à margem”. 

Contando histórias que a mídia tradicional não conta

A fundadora afirma ainda que essas histórias surgem de espaços que compõem a cidade, mas que são desvalorizados. Ao falar com as pessoas com quem já tem algum contato, o coletivo é sempre bem recebido e existe uma interação durante toda a produção. Ela complementa ainda dizendo que encontrou uma forma de mudar o discurso que aprendeu durante a graduação em Letras – Língua Portuguesa e empregar de forma muito mais prática no local onde mora, deixando claro o objetivo: “falar não por eles, mas junto deles”, diz ela. 

Com produções audiovisuais e utilizando as mídias sociais disponíveis, surgem produções que retratam o cotidiano da população periférica, como o curta metragem documental “Relatos de uma Pandemia nas Periferias Amazônicas”, realizado em 2021. O vídeo conta com diversos depoimentos de trabalhadores da capital do Amazonas durante a pandemia da covid-19 e a realidade pelas quais muitos passaram naquele momento.

As diversas periferias da região norte e suas próprias histórias

Outro trabalho produzido pelo coletivo, o “Religiosidades Afro-Ameríndias”, traz diversas lideranças religiosas de terreiros de Manaus, em uma reflexão sobre o racismo religioso. Esse projeto faz parte da série “Periferias e Perspectivas”, que é um espaço de diálogo e debate sobre temas complexos, segundo Raquel.

“Percebemos que as periferias do Norte do país têm uma outra composição, um outro cenário, construções próprias, que muitas vezes não percebemos quando falamos de uma periferia de forma homogênea, sempre pautada na região Sudeste. As nossas periferias se estendem, são periferias que estão nos meios ribeirinhos, rurais e que se constroem de forma horizontal”, explica ela. 

Raquel afirma também que depois desse projeto publicado nas redes sociais, as pessoas conseguiram compreender melhor qual a proposta do coletivo, quando conseguiram também um maior contato com a comunidade, que – segundo ela – eram as pessoas que queriam atingir. 

Diversificar esse olhar, produzir uma comunicação representativa, na qual mais pessoas pudessem se identificar, contribuiu também para o fortalecimento dos bairros periféricos. O coletivo, hoje, é convidado a ocupar diversos espaços, pautando sempre a importância dessas narrativas das periferias. 

Apesar de Raquel e Jessica serem as idealizadoras do Ponta de Lança e dividirem as tarefas entre si, Raquel explica que o coletivo atua como uma rede. “É constituído por jovens mulheres negras da periferia”, enfatiza. 

Para manter e viabilizar os projetos, elas participam de editais culturais e também atuam em parcerias com outras organizações, realizando atividades em conjunto para que possam dar continuidades nas ações.  

Saiba mais sobre o Coletivo Ponta de Lança

Se você quer conferir as produções audiovisuais realizadas pelo coletivo, é possível ter acesso ao material pela plataforma Youtube e pelo perfil no Instagram: @coletivopontadelanca.

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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