Pobreza menstrual é combatida por quem viveu nas ruas de João Pessoa

Projeto na capital paraibana atende pessoas em situação de pobreza menstrual que vivem nas ruas da cidade

18.10.21

Crédito: Divulgação

Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Fundado em 2018 pela artista visual Fany Miranda, o projeto Jampa Invisível atende à população em situação de rua, oferecendo kits de higiene pessoal, cobertores e, principalmente, escuta afetiva.

Fany, que já viveu a mesma situação que hoje é a realidade das pessoas assistidas pelo projeto, conta que ter vivido esse cenário foi decisivo para criar o projeto. “Eu já fui essa pessoa em situação de rua na minha própria cidade, porém, na época não falava para as pessoas que conviviam no meu ciclo. E, quando consegui meu emprego, comecei a estudar e a me interessar em levar comida para quem estava na rua, garrafinhas de água mineral e absorventes”, comenta a artista.

Pobreza menstrual
Projeto Jampa Invisível em uma das ações de doação de kits e reunião de escuta afetiva, na cidade de João Pessoa (PB). Foto: Divulgação.

Durante grande parte da pandemia, o projeto reunia, aos domingos, voluntários que distribuíam às pessoas em situação de rua cerca de 100 almoços com água mineral ou suco, além de kits de higiene, contendo absorventes, sabonete, roupas, creme dental e escova de dente. 

Hoje, a líder do projeto conta que, com a redução quase total nas doações, o foco tem sido manter a doação de kits de higiene pessoal, com foco nas pessoas em situação de pobreza menstrual e nas reuniões de escuta afetiva, que chegam a durar várias horas.

Mas o que é, de fato, a pobreza menstrual?

Esse termo é utilizado para caracterizar a falta de acesso a recursos, infraestrutura e até conhecimento envolvendo a própria menstruação. Em maio de 2021, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançaram um relatório que chama atenção para a realidade menstrual vivida por diversas mulheres que não têm acesso a uma condição digna de lidar com a menstruação no Brasil.

De acordo com o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos” desenvolvido pelas organizações, 713 mil jovens vivem sem acesso a banheiro ou chuveiro em seu domicílio, e mais de 4 milhões não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas.

Pobreza menstrual

Entre as condições que dificultam as vidas destas pessoas, outros serviços básicos essenciais para garantir a dignidade menstrual também são negligenciados: segundo o relatório, 900 mil não têm acesso à água canalizada em casa, e 6,5 milhões vivem em residências sem ligação à rede de esgoto.

Segundo a representante do UNFPA no Brasil, Astrid Bant, a ausência de condições sanitárias mínimas para que as pessoas possam gerenciar sua menstruação é uma violação de direitos humanos e uma condição que afasta o país do alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como o ODS 3, relacionado à saúde e ao bem-estar. 

“A menstruação é uma condição perfeitamente natural que deve ser mais seriamente encarada pelo poder público e as políticas de saúde. Quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando sua dignidade”, afirma a representante.

Lidando com a pobreza menstrual

A fundadora do projeto conta que a situação das assistidas pelo projeto passa por diversas problemáticas, que vêm muitas vezes desde o nascimento. “Muitas já nascem de mulheres que estão em situação de rua, e que não tiveram nenhum acompanhamento. Essas meninas crescem, muitas das vezes as mães estão presas ou assassinadas (na maioria das vezes por companheiros), e as meninas seguem suas vidas sendo abusadas até mesmo sem perceber”, comenta.

Fany relata que dentre as pessoas atendidas pelo Jampa Invisível, há muitas sonhadoras, a quem o projeto dedica ainda mais atenção, já que segundo ela “essas [pessoas], a gente não pode perder”.

A fundadora conclui afirmando que cuidar da pobreza menstrual é o primeiro passo para a dignidade e o crescimento individual destas mulheres. “A questão menstrual é um problema de saúde mesmo, pois como não têm acesso ao absorvente, elas usam papelão, sacolas plásticas, rasgam suas próprias roupas para colocar trapo. A dignidade menstrual é tudo”, conclui.

Para acompanhar a atuação do projeto, basta seguir o perfil do Jampa Invisível no Instagram, ou pelos links disponíveis aqui.

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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