Engajamundo foca na juventude e forma ampla rede de ativistas do clima no Brasil

Jovens buscam influenciar agendas de mudanças climáticas, comunidades e cidades sustentáveis, biodiversidade e gênero

12.07.23

Engajamundo é uma organização que aposta na juventude para transformar a realidade do Brasil. Por meio de formações, mobilização, advocacy e participação política, a iniciativa se constitui através de uma ampla rede de jovens ativistas do clima que buscam influenciar processos políticos, tanto no nível local quanto internacional. As principais agendas de enfrentamento são mudanças climáticas, comunidades e cidades sustentáveis, biodiversidade e gênero. 

Com dez anos de atuação, o Engajamundo conta com 2 mil membros, dos quais 250 trabalham ativamente como voluntários atualmente. Os ativistas trabalham espalhados. Há os laboratórios de comunicação e os de tecnologia e inovação que permitem a conexão em rede. Além disso, existem 24 núcleos locais em todo Brasil que funcionam como grupos autônomos, com suas próprias pautas e agendas. 

Há ainda as casas de biomas, que servem de ponto de encontro regional, para que os núcleos locais dialoguem e encontrem agendas paralelas em comum. Toda essa estrutura tem como objetivo empoderar jovens brasileiros para que participem de processos de tomada de decisão. Afinal, a chamada geração do futuro acaba sofrendo as consequências de decisões tomadas pela geração mais velha.

Juventude participa da COP 27 no Egito. Imagem: reprodução.

Engajamundo

Para entender como esses jovens atuam, entrevistamos a pedagoga Ana Rosa Calado Cyrus, de 26 anos, de Belém do Pará, e o historiador Wanderson Costa, de 22 anos, de Porto Franco, Maranhão. Ambos começaram como ativistas no Engajamundo e hoje compõem a Diretoria Executiva da organização. 

Protagonismo da juventude, democracia, direitos humanos… Conversamos sobre vários temas, principalmente, sobre o momento em que estamos vivendo hoje e as alternativas para transformar esse cenário catastrófico que nos é apresentado com a iminência das mudanças climáticas

Sobre essa questão, Wanderson Costa vai logo dando a letra: “estamos cansados de apenas tentar sobreviver, nós queremos viver de fato e para isso precisamos ter as condições mínimas asseguradas. Então o que a juventude busca hoje é justamente ultrapassar essa fase de sempre ter que lutar pelo básico”, diz.

Confira os principais trechos da entrevista:

Ativistas do clima 

“A juventude quer ter acesso à saúde, segurança e emprego. Nós também queremos ser vistos como pessoas técnicas, porque a juventude hoje faz um monte de coisa, mas não tem esse reconhecimento. Queremos uma passagem no transporte coletivo que seja barata. Queremos ter acesso ao lazer de qualidade. Então, quando falamos de um ambiente de qualidade, de justiça climática, é uma luta guarda-chuva, porque engloba todos os outros direitos.” 

                                                                                            Ana Rosa Cyrus, pedagoga, 26 anos.

Geração do futuro 

“Há uma cobrança gigante sobre a juventude, de que somos o futuro do Brasil. Mas o que estão fazendo para chegarmos nesse futuro se ainda temos que lutar pelo mínimo, que é sobreviver? É uma responsabilidade muito grande! Nas eleições do ano passado, por exemplo, a galera perguntava: ‘E aí, juventude, o que vocês vão fazer pra mudar esse jogo?’ 

Mas nos últimos anos, os jovens foram impedidos de participar dos espaços de decisão… Pensar na juventude não é só sobre profissionalização, sabe? Temos inúmeras necessidades que não são contempladas pela política. E a partir do momento que ignoram isso e depois colocam a responsabilidade de mudar o futuro do país nas nossas costas, sem que antes possamos dialogar sobre nossa própria existência, é de uma violência sem tamanho.”  

                                                                                         Wanderson Costa, historiador, 22 anos. 

Jovens se manifestam em defesa da Amazônia. Imagem: reprodução.

Juventude e democracia 

“Fizemos uma pesquisa em 2022, chamada Cadê as juventudes na política federal?. E essa pesquisa mostrou o sumiço da pauta de juventude de todo o planejamento governamental nos últimos quatro anos. Esses dados indicam que direitos previstos pelo próprio Estatuto das Juventudes foram retirados. Também foram retirados direitos de meninas e mulheres, de pessoas pretas, de pessoas indígenas, de LGBTQIA+. 

Então nossa ideia não é apresentar todas as soluções e alternativas para reverter isso, mas dar abertura e espaços necessários para que a juventude consiga construir suas próprias formas de reivindicação.”

                                                                                            Ana Rosa Cyrus, pedagoga, 26 anos.

Protagonismo jovem

“As políticas públicas não têm enxergado a juventude como uma prioridade. E somos nós, jovens, que interseccionamos com as mudanças climáticas. Então fala-se muito em conservação do meio ambiente, do papel da juventude, que nós somos o futuro, que podemos fazer alguma coisa. 

Mas se não há um incentivo para a juventude, se não há um amparo, se esses jovens não estão tendo acesso ao mínimo para ter uma vida satisfatória, então, que futuro é esse que está sendo construído? O Engajamundo surge justamente para alertar sobre isso…

Serve como um espaço de encontro desses jovens que, de alguma forma, estão pensando em adiar o nosso próprio fim do mundo. Porque buscar o protagonismo jovem não é só falar de juventude. Nós também precisamos estar nos espaços de tomada de decisão. É preciso colocar a juventude dentro da construção das políticas públicas, para de fato termos voz.”

                                                                                        Wanderson Costa, historiador, 22 anos. 

Jovens apresentam a pesquisa “Cadê as juventudes na política pública federal?”. Imagem: reprodução.

 

Política partidária 

“O Engajamundo não tem vínculo com partidos. Nós somos apartidários, mas não somos apolíticos, afinal nossa organização busca entender os processos políticos e participar das decisões. Do ano passado para cá, por exemplo, nossa atuação política tem sido muito incisiva no questionamento da falta de políticas públicas para a juventude. 

Então fizemos a pesquisa sobre participação da juventude nos processos políticos, fizemos uma série de ações locais, que foram tocadas pelo programa de integração Rebuliço. Faz cerca de um mês mais ou menos, também fizemos o Advocacy Tour, que levou jovens a Brasília para dialogar diretamente com os ministérios, as secretarias, etc. 

Nesse processo, fomos direcionados para atuar com o Plano Plurianual – PPA, que está sendo construído agora. Lançamos a proposta sobre o monitoramento do orçamento para juventudes dentro do PPA. Também estivemos com Marina Silva, dentro do Ministério do Meio Ambiente, e estamos contribuindo com a construção do Conselho de Justiça Climática.

Nós buscamos dialogar e caminhar dentro desses espaços de poder, mas sem fazer política partidária. Nosso objetivo é cobrar políticas permanentes, porque de quatro em quatro anos a Câmara pode ser renovada e nós queremos políticas que sejam permanentes, que não acabem em quatro anos.”

                                                                                            Ana Rosa Cyrus, pedagoga, 26 anos.

Conselho da Juventude

“Estamos propondo a criação de um Conselho de Juventude que interseccione com os outros ministérios, justamente nessa ideia de que a pauta ambiental não é só do Ministério do Meio Ambiente, mas também de todos os outros. Estamos fazendo essas articulações, já conversamos com o Ministério da Igualdade Racial, o Ministério dos Povos Indígenas.

Então hoje já temos uma pluralidade, uma diversidade muito maior de juventudes que estão pensando junto, sobre como queremos ser pautados. Porque até então, por exemplo, não tinha nenhuma Secretaria de Juventude dentro do próprio Ministério do Meio Ambiente. Mais uma vez, a juventude estava ficando de lado. 

A ideia do Conselho surgiu justamente para ter esse ponto de juventude dentro desses espaços, que pense sobre mudanças climáticas, porque nós seremos os mais afetados. Somos nós que estamos nessa ponta de maior vulnerabilidade, junto com as mulheres e as crianças… nós que estamos sofrendo todos os embates.” 

                                                                                         Wanderson Costa, historiador, 22 anos.

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Para maiores informações, o e-mail é: ola@engajamundo.org.

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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