Projeto leva dignidade para quem não tem acesso a absorventes e itens de higiene no período menstrual

A iniciativa do projeto MenstRua, de origem acadêmica, tem nas ruas a sua motivação

09.09.22

Crédito: Divulgação

Por: Alicia Lobato – Lupa do Bem / Favela em Pauta

O que era para ser apenas um site, criado como trabalho final do curso de programação, virou um grupo de voluntários que distribui kits de higiene para pessoas que menstruam e vivem no centro de Manaus, no Amazonas. O MenstRua surge em 2021, com o propósito de falar sobre pobreza menstrual e levar dignidade para diversas pessoas na capital amazonense. 

Completando um ano neste mês de setembro, o projeto conta com cerca de 40 voluntários e atua ativamente na distribuição de absorventes, realização de rodas de conversa sobre menstruação e na cobrança por políticas públicas. Mais de dois mil kits menstruais já foram distribuídos nestes 12 meses.

Jumara Pimenta, 27 anos, formada em administração e idealizadora do MenstRua, conta que, quando decidiu criar o site informativo sobre pobreza menstrual, percebeu que não existia outro projeto social que falasse sobre isso em Manaus. Assim, veio o desejo de fazer algo além. “Eu falei com alguns amigos sobre ideia e todo mundo achou legal, já que muitos deles que nem sabiam o que era pobreza menstrual”, declara. 

Desde então, Jumara vem se dedicando a não apenas distribuir os kits junto aos voluntários, como também a levar o tema a todos os espaços. Ela conta que buscou especialização no assunto e, hoje, se considera uma educadora menstrual, participando de rodas de conversa em eventos e em escolas e levando a importância do projeto para todo o estado do Amazonas, já que o MenstRua alcançou também outros municípios além da capital, com ações e colagem de lambes lambes para conscientizar a população.

O que é pobreza menstrual?

O termo pobreza menstrual tem sido alvo de imenso debate que envolve o lugar político na discussão sobre a distribuição gratuita de absorventes. Isso porque, em resumo, a pobreza menstrual é a falta de acesso a itens básicos de higiene no período da menstruação, sendo uma realidade que impacta na vida de milhares de pessoas no país. 

No Amazonas, em 2021, foi protocolada a lei n° 5.550/2021, pelo governador Wilson Lima, que definiu diretrizes para a Política Pública da Dignidade Menstrual e conscientização sobre a menstruação e a universalização do acesso ao protetor menstrual higiênico. A partir daí foi lançado o Programa Dignidade Menstrual, que envolve as secretarias de Assistência Social (Seas) e de Educação e Desporto (Seduc), para beneficiar estudantes com dificuldade de comprar os absorventes devido a questões socioeconômicas.

No entanto, desde que o programa foi lançado, apenas uma distribuição foi realizada, em março de 2022, por meio de uma grande doação de uma empresa fabricadora de absorventes. 

Para Jumara, surge a preocupação para que as doações do governo continuem. “Em outubro a gente vai começar uma campanha de mobilização para que, de alguma forma, o projeto de lei que tem aqui no Amazonas comece, de fato, a distribuição que eles se propuseram a fazer”, comenta. 

Jumara ainda compartilha que, antes de iniciar o projeto, foi à rua ouvir o que as pessoas tinham a dizer e quais eram as principais dificuldades durante o período menstrual. Ela lembra que muitas mulheres afirmaram que durante esse período usam a água do rio para tomar banho. 

“Em uma das últimas ações que fizemos, teve uma mulher que chorou e agradeceu. Foi muito emocionante, elas sempre nos recebem com muito carinho. A gente consegue perceber a importância do projeto quando recebemos os relatos de que o que fazemos é realmente necessário para elas”, afirma Jumara.

A importância de conversar sobre o tema

Com a ausência de um debate aprofundado sobre pobreza menstrual, o projeto ganhou muito mais responsabilidade. Além das doações mensais, veio a necessidade de ocupar outros espaços. Com a expansão dos bairros atendidos, novas ações puderam ser realizadas, como distribuição de kits em escolas públicas e atividades com mulheres indígenas

Segundo Jumara, para resolver a pobreza menstrual não é necessário somente distribuir absorventes, “é também dar acesso à educação menstrual, é conhecer o próprio corpo, é pensar na falta de saneamento básico e na falta de acesso à rede de esgoto, o assunto é muito amplo”, protesta.

Elizandra Ferreira, 24 anos, conheceu o MenstRua pela idealizadora Jumara e, ao acompanhar pelas redes sociais, decidiu se tornar voluntária. Para ela, as pessoas não conhecem sobre a probreza menstrual por conta do tabu que existe em relação ao próprio corpo e que é possível perceber isso até nas rodas de conversa. “Acredito que o projeto age como forma de propagação de informação, realizando as ações e estudando para entender o cenário de cada pessoa que estamos tentando ajudar”, acrescenta. 

Para ela é muito importante apropriar-se das redes sociais para propagar o assunto entre amigos, familiares, e também como forma de divulgação generalizada. “Mostrar as ações e o impacto que elas causam traz uma outra realidade para mais próximo das pessoas, gerando a sensibilidade e o processo de desconstrução”, afirma Elizandra. 

Como ajudar o projeto MenstRua

MenstRua

Atualmente o projeto se mantém com doações de pessoas interessadas em contribuir para que as ações possam ser realizadas. O projeto também conta com uma campanha recorrente, em que é possível se cadastrar como um apoiador mensal. Em Manaus, os interessados podem procurar os pontos de coleta distribuídos pela cidade e deixar o próprio material para ser inserido no kit.

Para conhecer o projeto e o grupo de voluntários, acesse o perfil no Instagram (@projetomenstrua) ou o site menstrua.netlify.app/.

    Jampa Invisível
    Jampa Invisível
    Precisando de: Doações
    Localização
    Contato
    Apoio
Autor: Redação - Lupa do Bem
Compartilhar:
Notícias relacionadas