Ah, se todo cinema tivesse Telas em Movimento!

Projeto periférico faz do cinema a ferramenta de resistência, luta e esperança

21.07.21

Crédito: Divulgação

Por: Renato Silva / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Imagine só: alguém que não tem a estrutura de uma empresa, nem apoio ou recursos, mas mesmo assim pensa num projeto com o desejo de democratizar o cinema, a produção audiovisual, nas periferias do Pará, no norte do país. Há quem possa pensar que é um sonho, mas não para os criadores do Telas em Movimento, projeto responsável pelo 1° Festival de Cinema das Periferias da Amazônia.

O projeto é realizado pela Negritar Filmes e Produções em parceria com diversas produtoras audiovisuais e culturais. Entre eles estão cineclubistas e apoiadores, que juntos influenciam diretamente na popularização da sétima arte e principalmente do acesso a essa produção audiovisual para aqueles que historicamente não têm acessado os meios necessários para construir narrativas a partir de suas próprias perspectivas.

Caminhando para a quarta edição do festival, o Telas em Movimento estreou em 2019, estimulando uma nova dinâmica de criação, percepção e recepção da sétima arte nas periferias do Pará. E de acordo com organizadores, já beneficiou toda a cadeia do audiovisual, incluindo seus agentes e receptores em várias regiões periféricas e ilhas da capital do estado. 

A atriz, jornalista e empreendedora social, Joyce Cursino, uma das co-criadoras do projeto, lembra que após o contato com a produção de cinema local, ao perceber como o acesso aos recursos estava restrito a um grupo excludente, o de homens brancos, resolveu buscar alternativas e criar o Telas em Movimento. “E aí, a partir dessas vivências eu resolvi criar esse festival. Com ajuda e a partir também dessa experiência com essas outras pessoas que já fazem o cinema de resistência, por meio de cineclubes, de projetos independentes nas periferias. Então, a gente se uniu nesse processo, num grande guarda-chuva, pra fazer ecoar essas vozes e essas narrativas a partir dos olhares de quem as vive, de quem as compõem, que são as pessoas das próprias periferias”, conta Joyce.

Edição 2019 do Festival (Crédito: Divulgação)

Cinema para todes!

O Telas em Movimento segue um roteiro de quebra de padrões sociais, que são estabelecidos também dentro do mercado audiovisual. O projeto, que já nasce com a inclusão como leme, é também uma organização formada por pessoas negras e na sua última edição, o 3º Festival de Cinema das Periferias da Amazônia teve pela primeira vez uma homenageada: Leona Vingativa, que é considerada a primeira youtuber do país e precursora na produção audiovisual na periferia da capital paraense.

Nesse sentido, a criação e condução do projeto segue a partir de três pilares, como aponta a co-criadora Joyce Cursino: arte, formação e política, e trazer a Leona como homenageada do festival também é pautar essa política, de visibilidade dessas artistas trans e dessa população que é tão marginalizada. “O festival tem esse papel de fazer com que as pessoas assumam, a partir das ferramentas que elas têm, a direção das suas histórias. Construam narrativas por meio do audiovisual. E a população LGBTQIA+ está inclusa nesse processo”, acrescenta Cursino.

O realizador, pesquisador e mestre em cinema Uriel Pinho considera importante ressaltar o avanço, através das mobilizações por políticas públicas no passado, para que corpos e pautas LGBTQIA+ se fizessem presentes nesses espaços de produção cultural, e aponta para a garantia de um futuro. “Acho fundamental questionar a cisheteronormatividade, mostrando que alguém como a Leona é uma precursora, uma referência artística e política, por exemplo. Isso abre várias possibilidades de analisar a obra dela, visibilizar quem veio antes e garantir o lugar de outres que virão”, comenta Pinho.

Mirando o futuro, o pesquisador considera que a situação de desigualdade não vai acabar se não for exposta e pontua os passos necessários para a sociedade seguir avançando. “Populações periféricas, não brancas e LGBTQIA+ tem acesso ainda mais desigual para atuar no audiovisual dentro do próprio Pará. Penso que considerar isso é fundamental para que coletivamente construamos novas políticas, novas obras e novos circuitos”, conclui.

Telas do futuro

Apesar de ter no festival o seu grande momento na temporada, o projeto funciona durante todo o ano com diversas micro-ações, como durante a pandemia com ações de combate aos efeitos do coronavírus e outras atividades complementares.

Uma dessas ações foi a iniciativa Telas da Esperança, uma mostra com quatro animações realizadas por crianças de comunidades ribeirinhas, quilombolas e periferias de Belém do Pará, durante o isolamento em 2020, em oficinas que duraram 1 mês.

Como na iniciativa com as crianças, o projeto segue em pleno funcionamento e nos meses de setembro e outubro terá novo ciclo formativo até o próximo festival, que está programado para setembro. O tema será “Fortalecendo Identidades da Amazônia”. 

Serão diversos agentes representando seus territórios para falar do processo identitário. Serão pessoas indígenas, pessoas ribeirinhas, pessoas das periferias trazendo essa perspectiva identitária da região.

Serviços do Telas em Movimento – Projeto de democratização do acesso à sétima arte:

Site: www.telas-emmovimento.org (temporariamente fora do ar)

Redes Sociais: Instagram, Youtube e Facebook 

 

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Autor: lupaadmin
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