Casa Dulce Seixas acolhe comunidade LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade

A Casa Dulce Seixas é uma instituição que acolhe pessoas LGBTQIA+ em estado de vulnerabilidade socioeconômica.

18.05.23

A Casa Dulce Seixas é uma instituição que acolhe pessoas LGBTQIA+ em estado de vulnerabilidade socioeconômica. São, em sua maioria, pessoas não aceitas pelas famílias e expulsas de casa por conta de sua orientação sexual.

Além de moradia e alimentação, a Casa oferece apoio psicológico e psiquiátrico, pois a maioria chega com sequelas das violências, sejam elas físicas ou psicológicas, que ocorreram nas ruas ou dentro do próprio âmbito familiar. A Casa também consegue oferecer, mediante parceria pontual com a FIOCRUZ, acompanhamento para controle de ISTs como HIV/Aids, hepatite e sífilis; e também faz encaminhamentos para os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) para o tratamento do uso abusivo de álcool e drogas. 

O projeto leva o nome da ex dirigente da Casa de Santo “Ilé Axé Ojú Omim Axé Odé”, Dulce Seixas, e é idealizado pela transexual Shirley Maria Padilha de Souza, nordestina, 45 anos. 

Em 2021 Shirley contraiu COVID-19, quase vindo a óbito, o que a levou a fazer uma promessa, um trato com o orixá Omolú que, se ela sobrevivesse, se dedicaria a dar ainda mais apoio para pessoas da comunidade LGBTQIA+, da qual faz parte.

Em conversa comigo, Shirley conta um pouco sobre seu passado e o que a levou a criar a instituição Casa Dulce Seixas.

“Meu pai foi horrível comigo, sempre me ameaçava com um facão dizendo que, se um dia descobrisse que tinha um filho “baitola” – como são chamados os gays na minha terra – ele cortaria igual cortava o fumo de rolo que vendia nas ruas, o que me traumatizou bastante. Saí de casa com 13 anos e fui trabalhar como doméstica. Com 14 vim para o Rio de Janeiro de carona em uma viagem que durou nove dias. Convivi com pessoas em situação de rua, pessoas que estavam no vício das drogas justamente pelo desprezo e abandono por parte das famílias. Juntando um pouco de cada coisa, foi o que me fez iniciar esse trabalho. Coloquei na minha cabeça que, quando tivesse condições, ajudaria outras pessoas na mesma situação. Não desejo o que eu passei pra ninguém, o que tiver ao meu alcance, eu farei ”.

Casa Dulce Seixas. Créditos: Divulgação/João Victor

Suporte profissional e assistido

A coordenadora da Casa Dulce Seixas, é a psicóloga Davlyn Lótus, também acolhida na casa. Ela é responsável pela construção de redes apoiadoras, como a que é mantida com a Casinha. Também acompanha os beneficiários nas consultas médicas e controla os medicamentos de quem está em tratamento. 

“A Casa Dulce Seixas está dentro de um território carente de Políticas Públicas e é a única na Baixada Fluminense com perfil de acolhimento e de acolhimento ao público LGBTQIA+. Meu pedido é para que as pessoas e o poder público passem a olhar esse local como um lugar que tem uma proposta de se manter, não só como local de assistência social, mas também de se tornar um ponto cultural, tanto no viés religioso; religião de Matrizes Africanas, e dinamizadora da diversidade gênero”, termina ela.

Desafios

Shirley diz que o principal desafio da Casa Dulce Seixas é sempre a questão financeira, por isso realizam diversas campanhas para comprar medicamentos, fazer manutenção no espaço, pagar despesas fixas e também para diversificar as atividades. 

A Casa Dulce Seixas tem como objetivos futuros expandir o trabalho realizado, reinserir os beneficiários na sociedade e, se possível, promover a reintegração familiar e ajudá-los a entrar no mercado de trabalho para que possam construir independência. 

A instituição fica dentro de uma Casa de Santo, um barracão de Candomblé, mas funciona sem vínculo ao viés religioso. A prática da religião pelos acolhidos é opcional. 

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Endereço: Bairro Kennedy, Posse, Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. 

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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